sábado, 6 de abril de 2013



Setúbal, 1 de Abril de 2013
III. NOTA CONCLUSIVA

 

A realidade que hoje em dia vivemos, exige cada vez mais dos profissionais de saúde. Para além das competências no campo da teoria clínica e da técnica, deparamo-nos com a responsabilidade deontológica, ética e social em desenvolver as capacidades de reflexão, de análise crítica e investir constantemente na aquisição de novos conhecimentos, pois estes são fundamentais para a elaboração de soluções mais criativas, personalizadas e efetivas junto da pessoa/ cliente. Deste modo, pensar criticamente e refletir sobre o nosso trabalho, abre janelas para novas perspetivas sobre o mundo, promove autoconfiança, encoraja o estudante para toda a vida e é uma das atividades mais significativas da vida de um profissional.

Todos temos ciente que para ser Enfermeiro Especialista em X (seja qual for a área de especialidade), não basta frequentar um curso de Pós-licenciatura em enfermagem ou um Mestrado em Enfermagem, ainda que reconhecido pela Ordem dos Enfermeiros. É certo que, é através destas formações avançadas que percecionamos e interiorizamos quais as competências inerentes em cada área de atuação.

No 2.º Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, foram, claramente, apresentadas as Competências Comuns dos Enfermeiros Especialistas e as Competências Especificas da área de atuação à qual nos propomos dedicar. Mas não chega. Não se tem um diploma na mão e «olha, já sou Enfermeiro Especialista!».

Segundo o Preâmbulo do Regulamento das Competências Comuns do Enfermeiro Especialista (REGULAMENTO 122/2011, p.8648), “Especialista é o enfermeiro com um conhecimento aprofundado num domínio específico da enfermagem, tendo em conta as respostas humanas aos processos de vida e aos problemas de saúde, que demonstram níveis elevados de julgamento clínico e tomada de decisão, traduzidos num conjunto de competências especializadas relativas a um campo de intervenção. A definição das competências do enfermeiro é coerente com os domínios considerados na definição das competências do enfermeiro de cuidados gerais, isto é, o conjunto de competências clínicas especializadas, decorre do aprofundamento dos domínios de competências do enfermeiro de cuidados gerais. Seja qual for a área de especialidade, todos os enfermeiros especialistas partilham de um grupo de domínios, consideradas competências comuns – a atuação do enfermeiro especialista inclui competências aplicáveis em ambientes de cuidados de saúde primários, secundários e terciários, em todos os contextos de prestação de cuidados de prestação de cuidados de saúde. Também envolve as dimensões da educação dos clientes e dos pares, de orientação, aconselhamento, liderança e inclui responsabilidade de descodificar, disseminar e levar a cabo investigação relevante, que permita avançar e melhorar a prática da enfermagem.” Tal como o disposto no artigo 4º do mesmo Regulamento (REGULAMENTO 122/2011, p.8649), “são quatro os domínios de competências comuns: responsabilidade profissional, ética e legal, melhoria contínua da qualidade, gestão dos cuidados e desenvolvimento das aprendizagens profissionais.” No seguimento deste regulamento, são explanadas as unidades de competência bem como os critérios de avaliação para cada uma.

Ao elaborar este Portefólio não nos apercebemos imediatamente dos contributos que pode trazer. Só quando chegamos ao fim é que confirmamos a certeza de que, para além de um trabalho exaustivo e complexo, é também um trabalho enriquecedor do ponto de vista do autoconhecimento e assertividade, pois todas as reflexões e textos expostos fomentaram o crescimento profissional e pessoal do estudante, bem como o desenvolvimento da assertividade. Todos os documentos apresentados no âmbito deste Portefólio foram elaborados com base em “praxis clínica especializada em sólidos e válidos padrões de conhecimento” (REGULAMENTO 122/2011, p.8653), pois nos processos de tomada de decisão e nas intervenções em padrões de conhecimento (científico, ético, estético, pessoal e de contexto sociopolítico) válidos, atuais e pertinentes, assumimo-nos como facilitadores nos processos de aprendizagem e agentes ativos no campo da investigação.

Debrucemo-nos, então, pelas unidades de competência que compõem as Competências do Domínio das Aprendizagens Profissionais.

D1.1 – Detém uma elevada consciência de si enquanto pessoa e enfermeiro. Para avaliar unidade de competência, tínhamos de desenvolver autoconhecimento facilitador de identificação de fatores que pudessem interferir no relacionamento com a pessoa cliente ou a equipa multidisciplinar. Deveríamos (saber) gerir as nossas idiossincrasias na construção dos processos de ajuda, reconhecer os nossos próprios recursos e limites pessoais e profissionais e tomar consciência inevitável da influência pessoal na relação profissional, gerindo-a o melhor possível. REALIZADO NESTE PORTEFÓLIO.

D1.2 – Gera respostas, de elevada adaptabilidade individual e organizacional. Para elaborar este Portefólio, era urgente o desenvolvimento da congruência entre a auto e a heteroavaliação. Ao assumir o Estatuto de Trabalhador-Estudante, consentimos dedicar uma parte de nós, e das nossas próprias famílias (já que as privamos da nossa companhia, em troca de horas infindáveis de desenvolvimento de competências), ao objetivo de concluir com êxito a formação avançada a que nos propusemos. Aprendemos com as nossas próprias dificuldades a gerir sentimentos e emoções, a atuar eficazmente sob pressão, a reconhecer e antecipar conflitos, respondendo de forma eficiente e capaz de resolver esses mesmos conflitos. Este Portefólio foi, sem dúvida, um projeto de aprendizagem em relação às questões da adaptabilidade individual e organizacional.

D2.1 - Responsabiliza-se por ser facilitador da aprendizagem, em contexto de trabalho, na área da especialidade. Esta unidade de competência refere-se à formação em contexto formal. Na elaboração deste Portefólio, preocupámo-nos em dar resposta não só a questões individuais, mas também, questões do grupo de trabalho profissional. Daí a realização de um Blog, para que o conhecimento compilado e as reflexões pudessem ser partilhadas com todos. É certo que não concebemos nem gerimos programas formativos formais, mas interessámo-nos em favorecer a aprendizagem, destreza nas intervenções e o desenvolvimento de habilidades e competências dos enfermeiros.

D2.2 – Suporta a prática clínica na investigação e no conhecimento, na área da especialidade. A escolha dos temas de debate e reflexão neste Portefólio tiveram como objetivo incorporar conhecimento no contexto da prática de cuidar, visando ganhos em saúde para o cliente/ família. Pelo que foram identificadas necessidades de investigação, por parte da estudante, as quais foram executadas. A pesquisa da prática baseada na evidência permitiu-nos interpretar, organizar e divulgar evidência que, por sua vez, contribuiu para o desenvolvimento da enfermagem na área de especialidade à qual nos dedicamos: enfermagem médico-cirúrgica.

D2.3 – Provê liderança na formulação e implementação de políticas, padrões e procedimentos para a prática especializada no ambiente de trabalho. A aquisição de uma base sólida de conhecimentos de enfermagem e outras disciplinas que contribuem para a prática especializada, é algo ao qual temos dedicado grande parte do nosso estudo. Conscientes de que estas bases sólidas não se absorvem somente nos livros, predispusemo-nos à realização de estágio curricular numa unidade que nos pareceu ser a mais adequada, no que concerne à aliança entre a teoria e a praxis, para o desenvolvimento de competências específicas da área de especialidade (enfermagem médico-cirúrgica). Posteriormente, procuramos demonstrar (também através deste Portefólio) conhecimentos especializados, seguros e competentes, que aprendemos a aplicar na prática. Assim, consideramos que rentabilizámos as oportunidades de aprendizagem e tomámos iniciativa na análise de situações clínicas, utilizando tecnologias de informação de e métodos de pesquisa adequados na produção deste trabalho académico.

É por tudo isto, que consideramos que este Portefólio ajudou-nos a consolidar (pelo menos) uma das Competências Comuns do Enfermeiro Especialista prevista no Regulamento 122/2011: Competências do Domínio das Aprendizagens Profissionais.

Ainda assim, confirmámos a nossa convicção de que enquanto jovens enfermeiros e futuros enfermeiros com a especialidade em médico-cirúrgica, temos um longo caminho a percorrer. Todas as vivências que tivermos, contribuirão para o nosso crescimento enquanto profissionais. Neste caso, enquanto Enfermeiros Especialistas.

Tal como Benner (546546546) afirmou, sempre que mudamos de contexto, voltamos à posição de inciado. Ainda que, no serviço onde estávamos no dia antes, fossemos peritos. A nosso ver, é aqui que reside a magia da enfermagem: evolução constante, não só na disciplina, como nos profissionais que a integram.  

Posto isto, consideramos que a elaboração deste Portefólio foi uma mais-valia no nosso percurso académico para a aquisição de competências. O timing para a sua execução pode não ter sido o mais adequado (lembro que todos os elementos da turma do 2º Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, são Trabalhadores e Estudantes), contudo a sua pertinência é irrevogável.

Esperamos que seja tão agradável navegar por este Blog quanto foi criá-lo.

         Muito obrigado!

 
Cordialmente,

JC
 

Referências Bibliográficas:

BENNER, Patrícia - De Iniciado a Perito. Coimbra: Quarteto Editora, 2001. ISBN972-8535-97-x.

ORDEM DOS ENFERMEIROS – Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Pessoa em Situação Crónica e Paliativa - Aprovado por unanimidade da Assembleia Geral Extraordinária da OE, a 22 de outubro de 2011.

REGULAMENTO N.º 122/2011 – Regulamento das Competências Comuns do Enfermeiro Especialista – D. R. 2ª série. N.º35 (18 de Fevereiro de 2011), p. 8648-8653.

REGULAMENTO N.º 124/2011 - Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Pessoa em Situação Crítica – D.R. 2ª série, N.º 35 (18 de Fevereiro de 2011), p. 8656-8657.

 

 

 

 

 

 




 
 

I.1 Métodos de Tratamento de Informação


Explanação sobre os vários métodos de tratamento de informação

        

O módulo Métodos de tratamento de informação foi lecionado pela Professora Doutora Helena Caria. Nunca a investigação nos pareceu tão simples e fácil de realizar. Citamos uma frase da Docente, que nos ficou no pensamento, uma definição tão ágil quanto sucinta da investigação: “Ter uma ideia, fazê-la e partilhá-la”. Elementar!

Segundo Caria, os ingredientes chave para um bom projeto de investigação são: interesse e paciência. Após findar o segundo semestre do 2º Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, nós acrescentámos mais um “tempero-chave”: a dedicação.

Segundo aportes das aulas lecionadas pela Prof.ª Phd Caria, a investigação apenas termina quando os resultados são comunicados. Pois, se investigar é aprender, então o investigador tem obrigação profissional e moral de apresentar os resultados da sua investigação, ao invés de guardá-los na gaveta. A investigação permite: conhecer melhor, explicar fenómenos, prever resultados, melhorar eficácia das intervenções, controlar efeitos de projetos, dar respostas mais adequadas aos problemas, contribuir com corpo de conhecimentos na área à qual se dedica (ex.: enfermagem), produzir conhecimento científico.

Ainda de acordo com aportes das aulas do Módulo de Métodos de Tratamento de Informação, o processo de investigação compreende três etapas que se coadunam com as ações desenvolvidas pelo investigador:

 


ETAPAS

 

AÇÕES DO INVESTIGADOR

Planificar o trabalho

à

Elaborar o Projeto

Realizar estudo

à

Obter e analisar dados

Comunicar conclusões

à

Redigir informação

Os métodos de tratamento de informação (ou análise de conteúdo) são, de fato, uma pedra no sapato de um estudante. Quando se fala em investigação, todos afirmam «não me importo de ficar na pesquisa» ou «eu faço o desenho do estudo». Mas ninguém assume vontade real de analisar conteúdo. É por isso, que nesta reflexão, propomo-nos a explanar sobre as vicissitudes de uma análise de conteúdo. O que é, como se faz, características inerentes e a que critérios deve dar resposta são os vários pontos de partida para esta análise da «análise de conteúdo».

 

A análise de conteúdo deve permitir fazer uma descrição objetiva e sistemática (se possível quantitativa) do conteúdo manifesto das comunicações, tendo por objetivo a sua interpretação o mais próximo possível da realidade.

            A objetividade confere à análise de conteúdo uma compreensão similar por diferentes investigadores. Isto é, se analisarem de acordo com determinadas regras e obedecerem a instruções claras e precisas, o resultado da análise vai ser o mesmo. 

            O conteúdo analisado deve ser sistematizado e integrado em categorias, que o investigador organiza previamente e de acordo com os objetivos que auspicia.

            Quantificar o conteúdo quando o analisamos, permite a generalização de resultados de uma determinada população em estudo a partir da amostra, bem como o estabelecimento de relações causa-efeito e a previsão de fenómenos. Os objetivos da análise de conteúdo quantitativa são encontrar relações entre variáveis, fazer descrições recorrendo ao tratamento estatístico de dados recolhidos e testar teorias. Daí a referência à seleção de uma amostra que deverá ser representativa da população em estudo, para que os resultados possam ser generalizados a essa mesma população.

Bardin (1977), apoiado mais tarde por Grawitz (1993), coloca de parte a exigência manifesta no que concerne à descrição quantitativa, enaltendo, por sua vez, as noções de forma e de estrutura.

O mesmo autor (BARDIN, 1977), defende que “a análise de conteúdo não deve de ser utilizada apenas para se proceder a uma descrição de conteúdo das mensagens, pois a sua principal finalidade é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente de receção), com a ajuda de indicadores (quantitativos ou não).”

A análise de conteúdo é, assim, composta por três etapas:

1ª – descrição, que corresponde à enumeração resumida após tratamento das características do texto;

2ª – inferência, etapa intermédia que permite a passagem explicita e controlada da descrição à interpretação;

3ª – interpretação, consiste no significado atribuído às características.

Assim, a inferência pode ser feita sobre a origem da mensagem ou sobre o próprio destinatário da comunicação. Ainda segundo Bardin (1977), a especificidade da análise de conteúdo resulta da articulação entre o texto (que é descrito e analisado, pelo menos em relação a certos dos seus elementos característicos) e os fatores que determinam as características (deduzidas logicamente).

Grawitz (1993) definiu vários tipos de análise de conteúdo, que também são distintos entre si: análise de exploração e análise de verificação; análise quantitativa e análise qualitativa; análise direta e análise indireta.

Na análise de verificação, analisamos documentos com o objetivo de verificar uma hipótese. Sendo uma análise fortemente sistematizada, não contempla todas as hipóteses, o que pode fazer com que fiquem fora do campo de investigação elementos que até poderiam ser essenciais para o estudo. Na análise exploratória, o leque de opções é vasto que os resultados não são específicos e, por isso, não são tao apreciáveis.

Na análise quantitativa, os dados numéricos têm lugar de destaque. Enquanto que, na análise qualitativa, a noção de importância implica a novidade, o interesse, o valor de um tema.

A análise direta vai beber consistência à análise quantitativa. É um modo simples de proceder. A análise indireta, por sua vez, procura uma interpretação do que se encontra latente sob a linguagem expressa, relacionando-se muito com a análise qualitativa. Porém, também podemos efetuar uma análise quantitativa indireta de um discurso e, por inferência, chegar a conclusões sobre o que não foi dito ou escrito propositadamente. Acontece tantas vezes na política!...

Bardin (1977) considera três fases na análise de conteúdo: 1 – pré-análise; 2 – exploração do material; 3 – tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Contudo, o mesmo autor considera que a análise de conteúdo compreende algumas etapas:

- Definição de objetivos e de um quadro de referência teórico; a criação de objetivos consiste no ponto de partida de uma pesquisa/ investigação, que deve ser sempre alicerçada a um corpo teórico sólido.  

- Constituição de um corpus, consiste no conjunto de documentos que o investigador seleciona com base na definição dos objetivos a que pretende dar resposta. A escolha destes documentos deve respeitar algumas regras: exaustividade (ou seja, todos os elementos do conjunto devem ser considerados), representatividade (parte selecionada de cada documento, deve corresponder ao conjunto dos documentos), homogeneidade (documentos respondem diretamente a critérios de escolha), pertinência (em relação ao tema em estudo).

- Definição de categorias. Pode ser feita inicial ou posteriormente. Permite organizar o conteúdo analisado. As categorias devem ter as seguintes particularidades: exaustivas, exclusivas, objetivas e pertinentes. A definição de categorias é um passo importante que deve ser realizado com bastante rigor, quer seja feito no inicio ou no decorrer do estudo, pois poderá comprometer a fiabilidade dos resultados do estudo.

- Definição de unidades de análise. Depois de definir categorias, temos de estipular as unidades de análise. Existem três tipos de unidades: de registo (que podem ser formais ou semânticas), de contexto e de enumeração.  

- Quantificação (não obrigatória). Compreende um leque vasto de técnicas que evoluíram de acordo com a evolução do campo de análise das ciências sociais e meios de tratamento de dados informáticos.

- Interpretação dos resultados obtidos. A inferência precede a interpretação de resultados, que deve ser feita no sentido de dar resposta aos objetivos do estudo e assente em pressupostos teóricos validados. A finalidade é a compreensão de um fenómeno (ou mais) e, se possível, definição de formas de previsão do mesmo. Sem esquecer que qualquer previsão deve ser sempre validada através do cruzamento dos resultados obtidos com outras técnicas.     

Por fim, a análise de conteúdo carece de dois alicerces fundamentais: a fidelidade e a validade.

Para garantir a fidelidade, o investigador deve explanar pormenorizadamente os critérios de codificação que utiliza e aplicá-los com rigor. É importante certificar que o investigador aplique ao logo do seu trabalho os mesmos critérios de codificação. O intuito é que, se tivermos investigadores diferentes a aplicar os mesmos critérios de codificação, os resultados a que cada um chega, devem ser análogos.

Uma análise de conteúdo será válida quando a descrição fornecida para o conteúdo tem significância para o problema em causa e reproduz fielmente a realidade dos fatos. Para defender a validade de uma análise de conteúdo, é necessário que todas as etapas que integram o processo de análise sejam corretamente executadas.

 

Referências Bibliográficas e eletrónicas:

BARDIN, L. - Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977.

CARIA, Maria Helena – Métodos de pesquisa de informação: área disciplinar de investigação e estatística. 2ª edição. Escola Superior de Saúde de Setúbal: [s.n.], Novembro de 2005. ISBN: 972-8431-24-4.

CARMO, H.; FERREIRA, M. M. – Metodologia da investigação: guia para a auto-aprendizagem – Lisboa: Universidade Aberta, 1998.

CARVALHO, Adalberto Dias, et al – A construção de um Projeto Escola. Porto: Porto Editora, 1993. ISBN 972-0-34203-X.

DADDS, Marion, HART, Susan, et al - Doing practitioner research differently. London: Edition Falmer, 2001.

DENZIN, Norman K. & LINCOLN, Yvonna S., et al  - Handbook of qualitative research. 2nd edition.  Thousand Oaks, Ca.: Sage, 2000.

GUERRA, Isabel – Introdução à Metodologia de Projecto. Lisboa. 1994.

GRAWITZ, Madeleine – Méthodes des Sciences Sociales – 9ª edição. Paris: Éditions Dalloz. 1993, p. 532-565.

LEITE, Elvira; MALPIQUE, Manuela; SANTOS, Milice; MAGALHÃES, A.; NOGUEIRA, Luísa – Trabalho de Projeto, Aprender por projetos centrados em problemas – vol. 1; Porto: Afrontamento, 2001.

LESSARD-HÉBERT, Michelle; GOYETTE, Gabriel; BOUTIN, Gérald - Investigação Qualitativa - Fundamentos e práticas. Lisboa: Instituto Piaget, 1994. ISBN: 972-9295-75-1.

NUNES, L.; Alunos 7º CLE; RUIVO, A.; FERRITO, C – Metodologia de Projeto: coletânea descritiva – II. Diagnóstico de SituaçãoRevista Percursos N.º15; Setúbal, 2010, p.10-17.

RIBEIRO, José Luís Pais - Investigação e avaliação em psicologia e saúde. Lisboa: Climepsi Editores, 1999. ISBN 972-8449-44-5

ROBSON, Colin - Real World Research.  Blackwell Publishers. 2002.

STREUBERT, Helen; CARPENTER, Dona - Investigação Qualitativa em Enfermagem. Lisboa: Lusociência, 2002. ISBN 972-8383-29-0.

 

 

quinta-feira, 4 de abril de 2013


I.2 Trabalho de Projeto


Reflexão sobre Questionário aplicado aquando do Diagnóstico de Situação do Projeto de Intervenção em Serviço (PIS)

 

O módulo Trabalho de Projeto foi lecionado pela Professora Doutora Alice Ruivo.

De acordo com os aportes apresentados em aula, um Projeto não é somente uma formulação, mas uma conceção da educação. É uma proposta de trabalho com ponto de partida na pesquisa. A partilha de resultados dessa pesquisa ajuda-nos a crescer, a todos, pois permite-nos que nos situemos, nos recriemos e avancemos com segurança. (LEITE, 2001)

Etimologicamente, o termo projecto deriva do latim: project-are, que significa lançar para a frente, atirar, e terá surgido pela primeira vez no século XV. Deste modo, projectar significa investigar um determinado problema ou situação com o objetivo de conhecer e apresentar as interpretações dessa realidade1.

A metodologia de projeto constitui uma ponte entre a teoria e a prática, dado que o conhecimento teórico funciona como suporte à prática. A metodologia de projeto tem como objetivo fundamental a resolução de problemas, sendo que, a sua execução permite a aquisição de capacidades e competências. Uma metodologia de projeto coerente deve apresentar algumas características fundamentais: atividade intencional, iniciativa e autonomia, autenticidade, complexidade e incerteza, prolongado e faseado. (NUNES, 7ºCLE, et al, 2010)

A metodologia de projeto compreende cinco etapas (GUERRA, 1994):

1 – Diagnóstico de situação 
2 – Planeamento
3 – Execução
4 – Avaliação
5 – Divulgação
 

De seguida, explanaremos sobre a primeira fase da metodologia de projeto e a experiência pessoal/ profissional que tivemos aquando do desenvolvimento desta etapa num projeto.

A primeira etapa de um projeto é o diagnóstico de situação. Nesta etapa é elaborado um mapa cognitivo e descritivo sobre a situação-problema à qual se pretende dar resposta. Na construção de um projeto na área dos cuidados de saúde, na consecução do diagnóstico de situação devemos ter em atenção às necessidades da população em estudo, perspetivando estratégias e ações por forma a concentrar e fomentar o trabalho de equipa entre os profissionais de saúde e/ou equipa multidisciplinar. O intuito é promover a capacidade, autonomia e motivação da população-alvo no projeto, para garantir o seu envolvimento no projeto. Para que auspicie sucesso num projeto, este deve ser capaz de proporcionar benefícios num longo período de tempo e no seio da equipa de enfermagem e/ ou equipa multidisciplinar. Um diagnóstico de situação carateriza-se como dinâmico, contínuo, permanente, com atualizações constantes, aprofundado, alargado, claro e sucinto. Inicialmente, identificam-se problemas (quantitativamente ou qualitativamente) e, posteriormente, estabelecem-se prioridades, identificando causas prováveis, recursos e grupos intervenientes. (NUNES, 7ºCLE, et al, 2010)

            Para identificar e validar problemas aquando da elaboração do diagnóstico de situação, dispomos de vários métodos: a entrevista, o questionário e métodos de análise da situação (análise SWOT- strengths, weaknesses, opportunities and threats, em português: forças, fraquezas, oportunidades, ameaças - ; cadeia de valores; FMEA – failure mode and effects analysis, em português: Metodologia de Análise do Tipo e Efeito de Falhas - ; Stream Analysis).

Durante o Estágio I e II (inserido no plano de estudos do 2º semestre do 2º Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica), a decorrer numa Unidade de Cuidados Intermédios (UCINT), foi solicitado à estudante a elaboração de um Projeto de Intervenção em Serviço (PIS) ou Projeto de Desenvolvimento Académico (PDA). Decidiu-se a primeira hipótese: PIS.

No decorrer dos referidos estágios, identificou-se a necessidade de uma norma de procedimento sobre o transporte de doente crítico (no caso específico da UCINT, uma norma de procedimento de transporte direcionada à pessoa com patologia cardíaca), com clara sistematização e uniformização dos cuidados de enfermagem à pessoa em situação crítica antes e durante o transporte inter-hospitalar. A Enfermeira Responsável do serviço considerou este projeto “necessário e essencial”. Sabendo que o projeto é fundamental ao serviço, faltava apenas garantir o envolvimento da equipa de enfermagem. Como tal, optou-se por elaborar e aplicar um questionário à equipa de enfermagem, com o objetivo de validar esta necessidade no seio da equipa e promover o seu envolvimento. Este questionário teve também o objetivo de validar as necessidades de formação na prestação de cuidados de urgência e emergência à pessoa em estado crítico.

Na elaboração deste questionário, foram tidos em conta vários fatores, tais como a autorização para a sua aplicação e garantia da privacidade dos questionados.

Na folha de rosto do questionário, procedeu-se à apresentação do investigador/ percursor do projeto bem como apresentação do tema do projeto e dos seus objetivos (questionário e projeto). As instruções para o preenchimento do questionário foram apresentadas em cada parte do questionário, imediatamente antes das questões. Optou-se por uma mancha gráfica simples e em formato de tabela (na parte II). Colocou-se em local do conhecimento de todos os elementos da amostra, um envelope devidamente identificado com os dados do investigador e do projeto, onde os questionários deviam ser introduzidos, depois de respondidos.   

A conceção de um questionário exige alguns padrões de atuação tanto na construção das questões e na apresentação do questionário em si. Como tal, foram tomados alguns cuidados na elaboração do questionário. Adequou-se o número de perguntas ao razoável (nem demais, nem de menos: parte I – 4 perguntas, parte II – 13 perguntas); elaboraram-se perguntas fechadas (na sua maioria, dicotómicas), compreensíveis, não ambíguas; abrangeram-se somente pontos de interesse para o projeto e de relevância relativamente à experiência do inquirido. (CARMO & FERREIRA, 1998)

Uma vez que o tempo disponível para elaboração e aplicação do mesmo era diminuto, elegeu-se um questionário do tipo fechado. Composto por questões objetivas, delimitadas no tempo e com resultados possíveis de tratar quantitativamente e analisar estatisticamente.

Na primeira versão do questionário, utilizou-se a escala de Likert. A escala de Likert consiste numa escala psicométrica, em que a pessoa pode responder à questão através de uma escala gradual de pontos ou de intervalos de acordo com a posição que tem em relação à situação. Tomemos o exemplo de uma das perguntas elaboradas na primeira versão do questionário: «Considera importante a existência de uma Norma de Procedimento sobre o Transporte Inter-hospitalar do Doente Crítico, na sua instituição hospitalar?» Seguidamente, seriam apresentadas as respostas possíveis, de acordo com uma escala ordinal de 5 pontos, em que aos pontos correspondem os graus de atribuição de importância (1- nada importante, 2 – pouco importante, 3 - importante, 4 – bastante importante, 5 – muito importante). Tendo em conta que as instruções para responder ao questionário foram apresentadas na introdução do mesmo, não houve dúvidas nas respostas. Todavia, após aplicação de pré-teste para garantir a sua aplicabilidade no terreno e avaliar se estava de acordo com os objetivos inicialmente formulados, verificou-se que a utilização desta escala era escusada do ponto de vista da averiguação da viabilidade/ necessidade do PIS e da reação que provocou aos inquiridos, por provocar aborrecimento. Percebeu-se, assim, que para validar a pertinência/ importância do PIS e envolver a equipa de enfermagem no projeto, o mais importante era, sem dúvida, deslindar se os inquiridos consideram importante ou não, nas questões de importância do PIS, e sim ou não, nas questões de validação de formação na área de atuação do projeto.

Posto isto, desenvolveu-se a segunda versão do questionário, desta vez com questões dicotómicas. Para dar conhecer as necessidades de formação da equipa de enfermagem, para além de questionarmos se os inquiridos têm formação na área, perguntámos há quanto tempo concluíram essa formação.

O questionário (final) ficou assim composto por duas partes. A primeira parte contém questões que visam aferir dados socioprofissionais da amostra inquirida. A segunda parte detém questões que pretendem conhecer se os inquiridos consideram o(s) tema(s) pertinentes e validar as necessidades de formação

Após apresentação do questionário ao Conselho de Administração desta Unidade Hospitalar e de o mesmo ter sido aprovado, com o compromisso dos investigadores de que as questões éticas e deontológicas seriam tidas em consideração ao longo de todo o processo, o questionário foi aplicado.

Obtivemos 100 % de respostas nos questionários. O objetivo para o qual o questionário foi elaborado foi concluído, pois conseguiu-se validar a pertinência do projeto, conhecer as necessidades de formação e envolver a equipa de enfermagem no projeto.

Seguidamente, apresentamos o questionário que foi colocado à equipa de enfermagem da UCINT da Unidade Hospitalar, onde nos encontramos a desenvolver o Projeto de Intervenção em Serviço.

 
 


 



 
 
 

Referências Bibliográficas e eletrónicas:

CARIA, Maria Helena – Métodos de pesquisa de informação: área disciplinar de investigação e estatística. 2ª edição. Escola Superior de Saúde de Setúbal: [s.n.], Novembro de 2005. ISBN: 972-8431-24-4.

CARMO, H.; FERREIRA, M. M. – Metodologia da investigação: guia para a auto-aprendizagem – Lisboa: Universidade Aberta, 1998.

CARVALHO, Adalberto Dias, et al – A construção de um Projeto Escola. Porto: Porto Editora, 1993. ISBN 972-0-34203-X.

DADDS, Marion, HART, Susan, et al - Doing practitioner research differently. London: Edition Falmer, 2001.

DENZIN, Norman K. & LINCOLN, Yvonna S., et al  - Handbook of qualitative research. 2nd edition.  Thousand Oaks, Ca.: Sage, 2000.

GUERRA, Isabel – Introdução à Metodologia de Projecto. Lisboa. 1994.

LEITE, Elvira; MALPIQUE, Manuela; SANTOS, Milice; MAGALHÃES, A.; NOGUEIRA, Luísa – Trabalho de Projeto, Aprender por projetos centrados em problemas – vol. 1; Porto: Afrontamento, 2001.

LESSARD-HÉBERT, Michelle; GOYETTE, Gabriel; BOUTIN, Gérald - Investigação Qualitativa - Fundamentos e práticas. Lisboa: Instituto Piaget, 1994. ISBN: 972-9295-75-1.

NUNES, L.; Alunos 7º CLE; RUIVO, A.; FERRITO, C – Metodologia de Projeto: coletânea descritiva – II. Diagnóstico de SituaçãoRevista Percursos N.º15; Setúbal, 2010, p.10-17.

RIBEIRO, José Luís Pais - Investigação e avaliação em psicologia e saúde. Lisboa: Climepsi Editores, 1999. ISBN 972-8449-44-5

ROBSON, Colin - Real World Research.  Blackwell Publishers. 2002.

STREUBERT, Helen; CARPENTER, Dona - Investigação Qualitativa em Enfermagem. Lisboa: Lusociência, 2002. ISBN 972-8383-29-0.

1 – Avaliable from world wide web:  http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=projeto

 




II.4.2 Cuidados ao Cliente com Múltiplos Sintomas


 

» Medidas de Isolamento do Cliente em Meio Hospitalar

 

            No âmbito do módulo Cuidados ao Cliente com Múltiplos Sintomas/ Controlo e Prevenção de Infeção, foi solicitado aos estudantes que elaborassem um trabalho sobre um tema ou procedimento à escolha, evidenciando as medidas de prevenção e controlo de infeção a ter em conta.

            O tema escolhido foi o Isolamento do Cliente em Meio Hospitalar. O trabalho realizado em power point, conforme preconizado na ficha da Unidade Curricular de Médico-Cirúrgica I, foi denominado «Recomendações para as Precauções de Isolamento e Precauções Dependentes das Vias de Transmissão». A escolha deste tema relaciona-se diretamente com a necessidade, identificada pelas estudantes que o elaboraram, de conhecer melhor as recomendações de boas práticas para as precauções básicas e precauções específicas na prevenção e controlo da infeção.

            Consideramos, assim, a pertinência do tema dependente das unidades de competência que integram competência “K3 – Maximiza a intervenção na prevenção e controlo da infeção perante a pessoa em situação crítica e/ ou falência orgânica, face à complexidade da situação e à necessidade de respostas em tempo útil e adequadas, passamos a citar “K.3.1 – Concebe um plano de prevenção e controlo da infeção para resposta às necessidades do contexto de cuidados à pessoa em situação crítica e/ ou falência orgânica” e “K.3.2 – Lidera o desenvolvimento de procedimentos de controlo de infeção, de acordo com as normas de prevenção, designadamente das Infeções Associadas à Prestação de Cuidados de Saúde à pessoa em situação crítica e/ ou falência orgânica.” (in Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Pessoa em Situação Crítica, 2011, p.8657)

            O trabalho pode ser visualizado em http://www.slideshare.net/JoanaSilvaCoelho/21-isolamento-mdulo-controlo-de-infeo-18172911 - Isolamento - Módulo Controlo de Infeção

Bibliografia


REGULAMENTO N.º 124/2011 - Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Pessoa em Situação Crítica – D.R. 2ª série, N.º 35 (18 de Fevereiro de 2011), 8656-8657..

 

 

terça-feira, 2 de abril de 2013


II.5 Intervenções de Enfermagem ao Cliente com Dor



O presente documento surge no âmbito do módulo Intervenções de Enfermagem à Pessoa com Dor.




Imagem II.5 – 1. “The wounder deer” Retirado de http://www.daydaypaint.com/blog/category/frida-kahlo a 20.03.2013.


A pintura acima, foi criada por Frida Kahlo em 1946, no seguimento de uma cirurgia à coluna mal sucedida. Frida Kahlo retratou-se a si mesma na figura de um veado ferido com várias flechas simbolizando a dor difusa e concomitante à qual estava sujeita diariamente. O céu azul iluminando o veado ferido poderá ser interpretado como a esperança que a autora mantinha no controlo da sua dorsalgia. Contudo, e apesar de todos os tratamentos que realizou, a dor permaneceu… Mas afinal que dor era esta tão difícil de extinguir?

De acordo com COSTA et al (2005, p.900), “a dor é aquilo que o doente referir como tal, e é esta subjetividade na sua definição que torna o combate à dor muitas vezes difícil”. Segundo a mesma fonte, a definição que prevalece desde 1982 foi construída pela “American Pain Society”, que define a dor “como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano tecidular presente ou potencial, ou descrita em termos de tal dano”.


A Dor deve ser encarada com seriedade pois, tal como enunciado no Guia Orientador de Boa Prática (Ordem dos Enfermeiros, 2008), “o controlo da dor é um direito das pessoas e um dever dos profissionais de saúde” (p.9).

Em 2003, a Direção Geral de Saúde (DGS) publicou a Circular Normativa N.º9/DGCG, que afirmou a Dor como 5º Sinal Vital. Ou seja, para além da Tensão Arterial, da Frequência Cardíaca, da Temperatura e da Respiração, temos (Enfermeiros) o dever de avaliar e registar (e atuar, resultados anormais) também na dor (DGS, 2003).


De acordo com o inscrito na mesma Circular Normativa, a dor é um fenómeno que está presente na maioria das situações patológicas que carecem de cuidados de saúde.  

A dor é um fenómeno complexo, multidimensional, único, dinâmico e subjetivo. A sua perceção é o principal motivo para a procura de cuidados de saúde, principalmente. A classificação mais comum da dor divide-a em dois campos: aguda e crónica.

A dor aguda costuma ser breve, de causa conhecida e a sua intensidade pode variar de moderada a grave. O tratamento da dor aguda é dirigido de modo a eliminar a causa. Na dor crónica, sabe-se que permanece para além de três meses. A sua causa pode ou não ser conhecida. Tem intensidade variável e uma panóplia de tratamentos possíveis.

Em 2008, a DGS divulgou o Programa Nacional de Controlo da Dor (Circular Normativa N.º11/DSCS/DPCD, DGS, 2008), pelo qual pretende tirar basear-se em experiências adquiridas, determinar novos objetivos e novas estratégias operacionais no controlo da dor. A mesma Circular Normativa atribui prioridade ao controlo da dor na prestação de cuidados de saúde e, ao mesmo tempo, define-o como “fator decisivo para a indispensável humanização dos cuidados de saúde” (p.2).
          

      Para melhor intervir no controlo da dor, consideramos pertinente explanar sobre o que é a dor e como funcionam os mecanismos neurofisiológicos que a envolvem. Tendo em conta que a dor responde a uma complexa atividade neurofisiológica, e que pode ser percecionada de variadíssimas formas de acordo com a idade, género, cultura, fase do ciclo vital, percebemos o quão difícil pode tornar-se a avaliação correta da dor. Pelo que propomo-nos a dar continuidade ao estudo da dor que iniciámos na aula do referido módulo.

      Nos emaranhados deste labirinto da subjetividade que é a dor, conseguimos perceber, com base em bastante pesquisa bibliográfica, que a dor tem sempre bases fisiológicas e psicológicas comuns. Segundo COSTA et al (2005), a dor é constituída por quatro componentes: afetivo-emocional, cognitiva, comportamental e sensório-discriminativa. 

      A componente afetivo-emocional envolve a dor com sentimentos que a tornam penosa, desagradável e, muitas vezes, insuportável. A componente cognitiva diz respeito ao conhecimento que a pessoa tem da sua dor e o sentido que lhe dá, sendo que este influenciará as reações comportamentais perante o fenómeno da dor. A componente comportamental está relacionada com as manifestações pessoais de cada pessoa perante a dor. A componente sensório-discriminativa está relacionada com os mecanismos neurofisiológicos. A complexa atividade neurológica permite-nos decifrar a qualidade da dor, bem como a sua duração, intensidade e localização das mensagens dos neuro-recetores. Estes mecanismos neurofisiológicos compreendem quatro passos: transdução, transmissão, perceção e modulação.

      A transdução é um processo pelo qual os estímulos nociceptivos (dor) conduzem a atividade elétrica. Estes nociceptores têm um índice elevado de resposta a estímulos intensos mecânicos, térmicos (responsáveis pela dor rápida) e químicos. A dor lenta/ tardia poderá resultar dos três tipos de nociceptores.

      A transmissão consiste no canal pelo qual os impulsos são conduzidos, desde os nervos aferentes principais até ao início da medula espinal. Estas aferências terminam ao nível de múltiplas camadas no corno posterior da medula. As mensagens nociceptivas que chegam a estas fibras ativam as células de transmissão que se situam nas camadas superficiais e profundas da medula dorsal. O corno dorsal da medula compreende dois tipos de neurónios que recebem mensagens nociceptivas a nível periférico: os neurónios nociceptivos específicos e os neurónios nociceptivos não específicos. Estes últimos, têm um padrão de receção mais alargado, recebem mensagens de diversas origens e são eles os responsáveis pelas dores projetadas ou pelos erros de localização.
       A mesma fonte apresenta a teoria do controlo do portão, proposta em 1965 por Melzack e Wall. Segundo esta teoria, subsiste um controlo segmentar que é inibidor da transmissão nociceptiva. É através deste «portão» que «abre e fecha» que a integração da mensagem permite ou não a passagem de informação para estruturas superiores, promovendo ou inibindo a dor. Esta teoria esteve na base para o desenvolvimento de tratamentos para a dor utilizando técnica do calor ou do frio e das massagens. Conclui-se, assim, que existe uma estimulação idónea na cessação quase imediata de algumas dores de origem periférica.
      Para além do corno dorsal da medula, existem outras vias ascendentes envolvidas na transmissão de mensagens nociceptivas a um nível superior, como o córtex cerebral, nas quais se destacam: o feixe espino-talâmico, o feixe espino-reticular e as fibras pós-sinápticas das colunas dorsais.

      A perceção resume-se na tradução da resposta neural em sensação ao córtex cerebral, onde a pessoa identifica a sensação de dor. De acordo com a estrutura que recebe a mensagem, assim será a reação/ ação da pessoa. As estruturas talâmicas recebem mensagens nociceptivas e transmitem informações sobre a localização, intensidade, superfície e duração da estimulação nociceptiva; o feixe espino-reticular está relacionado com a elaboração de reações comportamentais em resposta a estimulações nociceptivas; no cortéx cerebral, se o cortéx parietal apresentar algum tipo de lesão, pode diminuir a sensação dolorosa.

      A modulação consiste no controlo da transmissão de dor e pode incluir tanto a inibição como a ênfase do estímulo nociceptivo. A modulação envolve recetores opiáceos no cortéx, a meio do cérebro, medula espinal, aparelho gastro intestinal, bexiga e útero. Este mecanismo tem a capacidade de anular a própria dor. Tomamos como exemplo desta capacidade notável de um sistema analgésico endógeno que, quando estimulado, consegue inibir a dor, as morfinas endógenas do SNC (endocefalinas) e nos cornos posteriores da medula (endorfinas). 

     A acunputura é muito utilizada para estimular este processo de analgesia endógena, principalmente na dor crónica.

      Tendo em consideração que a dor assenta nestes princípios neuro-fisiopatológicos, podemos concluir que a dor surge quando:

       - um determinado estímulo atua no recetor doloroso;

        -um impulso é desencadeado e transmitido ao cérebro pelas fibras de condução    dolorosa; 

        - nenhum mecanismo endógeno, terapêutico ou médico impeça a transmissão do impulso;

       - o estímulo seja consciencializado pelo individuo.

      Através da compreensão do mecanismo fisiopatológico da dor e do conhecimento da atuação dos químicos (terapêutica) no nosso organismo, é possível perceber a adequação da medicação e o seu sucesso ou não em função da patologia e das condições psicológicas e sociais da pessoa. É importante referir que existem dores cuja causa ainda não foi reconhecida.



      Segundo BUDÓ et al (2007, p.), “A cultura exerce grande influência em todos os aspetos da vida das pessoas, incluindo suas crenças, comportamentos, perceções, emoções, religião, estrutura familiar, linguagem, alimentação, vestuário, imagem corporal e, entre outras situações, exerce um poderoso efeito na tolerância ou não à dor.” De acordo com os mesmos autores, a cultural, grupo social e, por vezes, no seio da mesma família, possui uma linguagem singular e individualizada, que consiste num conjunto de termos próprios através do qual a pessoa com dor mostra aos demais o seu sofrimento. A tolerância à dor é variável e está relacionada com fatores sensoriais (localização e extensão da lesão celular), genéticos, emocionais (medo, ansiedade, raiva), culturais (aprendizagem, experiências anteriores, significado simbólico da dor) e sociais. Perante a diversidade de fatores, é claro depreender que a tolerância à dor também será variável. Para além disso, a visão da dor pode ser muito diferente entre os profissionais de saúde e entre as pessoas com dor. Algumas pessoas podem não se sentir doente por sentirem dor alguma. Alguns profissionais de saúde podem não percecionar que a pessoa tem dor, pois normalmente a dor não está associada à patologia da pessoa. Ao depararmo-nos com tanta subjetividade, percebemos que a apreciação, perceção e sensação de dor pode variar muito tanto entre as pessoas como entre os profissionais de saúde, pelo que deve de ser sempre explanada o melhor possível.

      Sendo os enfermeiros os mais privilegiados na proximidade e tempo de contato com a pessoa que carece de cuidados, são os profissionais de saúde com mais responsabilidade na promoção e intervenção do controlo da dor, contribuindo para a satisfação da pessoa, o seu bem-estar e o seu autocuidado. (Guia Orientador de Boa Prática: Dor, OE, 2008).

      Atualmente, e sendo a dor considerada o 5º sinal vital, temos fundamentado e ao nosso alcance todos os intrumentos que nos permitem avaliar o mais proximo possivel da realidade a intensidade da dor.

      Existem vários instrumentos de autoavaliação da dor, denominados escalas. A escala visual analógica, a escala numérica, a escala de faces e a escala qualitativa. O enfermeiro deve aplicar qualquer um destes instrumentos de acordo com o tipo de dor, a idade, a situação clínica, a propriedades psicométricas, os critérios de interpre­tação, uma escala de quantificação comparável, a facilidade de aplicação, a expe­riência de utilização em outros locais. O enfermeiro deve certificar-se que da compreensão das escalas por parte da pessoa/ família/ prestador de cuidados antes da sua aplicação. Quando a pessoa adapta-se a uma escala, significa que consegue expressar a sua dor através deste instrumento e que a nossa resposta para o controlo da dor (medidas terapêuticas e não terapêuticas), por isso, podemos mantê-la.

      Ainda de acordo com Guia Orientador de Boa Prática: Dor (OE, 2008), o controlo da dor compreende a prevenção e o tramento da dor, pelo que o enfermeiro deve agir sempre no sentido de antever a dor, intervindo no sentido de eliminar ou reduzir a dor, expressa pela pessoa.

      Seguidamente, apresentaremos o algoritmo para o controlo da dor proposto pela OE (2008):




 


Segundo Nunes (in Prefácio do Guia Orientador de Boa Prática: Dor, OE, 2008), os enfermeiros sabem que “a negação ou desvalorização da dor do Outro é um erro ético no confronto com o sofrimento e a dor, bem como uma falha na excelência do exercício profissional”. Logo, e tendo em conta o artigo 4º do Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE, Lei n.º 111/2009, artigo 4º- “Enfermagem é a profissão que, na área da saúde, tem como objetivo prestar cuidados ao ser humano, são ou doente, ao longo do ciclo vital, e aos grupos sociais em que ele está integrado, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a saude, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto possível.”) concluimos que, o enfermeiro assume na excelência dos seus cuidados a responsabilidade da decisão clínica que deverá ser suportada por conhecimento cientifico acerca dos mecanismos da dor, bem como da esfera psico-socio-cultural que a envolve, tornando imprescindivel a sua intervenção na prestação de cuidados de saúde.
 


 

Bibliografia


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BUDÓ, M. d., NICOLINI, D., RESTA, D. G., BÜTTENBENDER, E., & Michele Camponogara PIPPI, L. B. - A cultura permeando os sentimentos e as reações frente à dor - Revista Escola Enfermagem USP, n.º 41 (1), 2007, pp. 36-43.

COSTA, C., MAGALHÃES, H., FÉLIX, R., COSTA, A., & CORDEIRO, S. - O Cancro e a Qualidade de Vida - A quimioterapia e outros fármacos no combate ao cancro - Lisboa: Editora Norvatis, 2005.

DIREÇÃO GERAL DE SAÚDE - Circular Normativa N.º 09/ DGCG: A dor como 5º sinal vital. Registo sistemático da intensidade da Dor. Lisboa, 14 de junho de 2003.

DIREÇÃO GERAL DE SAÚDE - Circular Normativa N.º 11/ DSCS/ DPCD - Programa Nacional de Controlo da Dor. Lisboa, 18 de junho de 2008.

McCAFFERY, M., & BEEBE, A. - Pain: Clinical Manual for Nursing Practice. Baltimore: The C.V. Mosby Company, 1989.

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ORDEM DOS ENFERMEIROS - Guia Orientador de Boa Prática: Dor - Cadernos da OE. Lisboa: Edição Ordem dos Enfermeiros, 2008.

ORDEM DOS ENFERMEIROS - Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem. Enquadramento Concetual. Enunciados Descritivos. Lisboa: Edição OE, 2001.

ORDEM DOS ENFERMEIROS - Regulamento Do Exercício Profissional Dos Enfermeiros, Lei 111/2009. Lisboa: Diário da República.

PHIPPS, W. J., SANDS, J. K., & MAREK, J. F. - Enfermagem Médico-Cirúrgica - Conceitos e Prática Clínica - 6ª edição. Loures: Lusodidacta, 2003.

PIMENTA, C., MOTA, D., & CRUZ, D. - Dor e Cuidados Paliativos: Enfermagem, Medicina e Psicologia. São Paulo: Editora Manole, 2006.

REGULAMENTO DAS COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM EM PESSOA EM SITUAÇÃO CRÍTICA - Regulamento n.º 124/2011. Diário da República, 2ª série, n.º 35, 18 de Fevereiro de 2011.

STEIN, C. - Os opiáceos da Dor: Aspectos Básicos e Clínicos. 1ª edição. Lisboa: Climepsi Editores, 2001.