I.2 Trabalho de Projeto
Reflexão sobre Questionário aplicado aquando do
Diagnóstico de Situação do Projeto de Intervenção em Serviço (PIS)
O módulo Trabalho de
Projeto foi lecionado pela Professora Doutora Alice Ruivo.
De acordo com os aportes apresentados em aula, um Projeto não
é somente uma formulação, mas uma conceção da educação. É uma proposta de trabalho
com ponto de partida na pesquisa. A partilha de resultados dessa pesquisa
ajuda-nos a crescer, a todos, pois permite-nos que nos situemos, nos recriemos
e avancemos com segurança. (LEITE, 2001)
Etimologicamente, o termo projecto
deriva do latim: project-are, que
significa lançar para a frente, atirar, e terá surgido pela primeira vez no
século XV. Deste modo, projectar
significa investigar um determinado problema ou situação com o objetivo de
conhecer e apresentar as interpretações dessa realidade1.
A metodologia de projeto constitui uma ponte entre a teoria e
a prática, dado que o conhecimento teórico funciona como suporte à prática. A metodologia
de projeto tem como objetivo fundamental a resolução de problemas, sendo que, a
sua execução permite a aquisição de capacidades e competências. Uma metodologia
de projeto coerente deve apresentar algumas características fundamentais:
atividade intencional, iniciativa e autonomia, autenticidade, complexidade e
incerteza, prolongado e faseado. (NUNES, 7ºCLE,
et al, 2010)
A metodologia de projeto compreende cinco etapas
(GUERRA, 1994):
1 – Diagnóstico de situação
2 – Planeamento
3 – Execução
4 – Avaliação
5 – Divulgação
De seguida, explanaremos sobre a primeira
fase da metodologia de projeto e a experiência pessoal/ profissional que
tivemos aquando do desenvolvimento desta etapa num projeto.
A primeira etapa de um projeto é o diagnóstico de situação.
Nesta etapa é elaborado um mapa cognitivo e descritivo sobre a
situação-problema à qual se pretende dar resposta. Na construção de um projeto
na área dos cuidados de saúde, na consecução do diagnóstico de situação devemos
ter em atenção às necessidades da população em estudo, perspetivando
estratégias e ações por forma a concentrar e fomentar o trabalho de equipa
entre os profissionais de saúde e/ou equipa multidisciplinar. O intuito é
promover a capacidade, autonomia e motivação da população-alvo no projeto, para
garantir o seu envolvimento no projeto. Para que auspicie sucesso num projeto,
este deve ser capaz de proporcionar benefícios num longo período de tempo e no
seio da equipa de enfermagem e/ ou equipa multidisciplinar. Um diagnóstico de
situação carateriza-se como dinâmico, contínuo, permanente, com atualizações
constantes, aprofundado, alargado, claro e sucinto. Inicialmente,
identificam-se problemas (quantitativamente ou qualitativamente) e,
posteriormente, estabelecem-se prioridades, identificando causas prováveis,
recursos e grupos intervenientes. (NUNES, 7ºCLE,
et al, 2010)
Para identificar e validar problemas
aquando da elaboração do diagnóstico de situação, dispomos de vários métodos: a
entrevista, o questionário e métodos de análise da situação
(análise SWOT- strengths, weaknesses, opportunities and threats, em português:
forças, fraquezas, oportunidades, ameaças - ; cadeia de valores; FMEA – failure
mode and effects analysis, em português: Metodologia de Análise do Tipo e Efeito de Falhas - ; Stream
Analysis).
Durante o Estágio I e II (inserido no plano de estudos do 2º
semestre do 2º Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica), a decorrer numa
Unidade de Cuidados Intermédios (UCINT), foi solicitado à estudante a
elaboração de um Projeto de Intervenção em Serviço (PIS) ou Projeto de
Desenvolvimento Académico (PDA). Decidiu-se a primeira hipótese: PIS.
No decorrer dos referidos estágios, identificou-se a
necessidade de uma norma de procedimento sobre o transporte de doente crítico
(no caso específico da UCINT, uma norma de procedimento de transporte
direcionada à pessoa com patologia cardíaca), com clara sistematização e
uniformização dos cuidados de enfermagem à pessoa em situação crítica antes e
durante o transporte inter-hospitalar. A Enfermeira Responsável do serviço
considerou este projeto “necessário e essencial”. Sabendo que o projeto é
fundamental ao serviço, faltava apenas garantir o envolvimento da equipa de
enfermagem. Como tal, optou-se por elaborar e aplicar um questionário à equipa
de enfermagem, com o objetivo de validar esta necessidade no seio da equipa e
promover o seu envolvimento. Este questionário teve também o objetivo de
validar as necessidades de formação na prestação de cuidados de urgência e
emergência à pessoa em estado crítico.
Na elaboração deste questionário, foram tidos em conta vários
fatores, tais como a autorização para a sua aplicação e garantia da privacidade
dos questionados.
Na folha de rosto do questionário, procedeu-se à apresentação
do investigador/ percursor do projeto bem como apresentação do tema do projeto
e dos seus objetivos (questionário e projeto). As instruções para o
preenchimento do questionário foram apresentadas em cada parte do questionário,
imediatamente antes das questões. Optou-se por uma mancha gráfica simples e em
formato de tabela (na parte II). Colocou-se em local do conhecimento de todos
os elementos da amostra, um envelope devidamente identificado com os dados do
investigador e do projeto, onde os questionários deviam ser introduzidos,
depois de respondidos.
A conceção de um questionário exige alguns padrões de atuação
tanto na construção das questões e na apresentação do questionário em si. Como tal,
foram tomados alguns cuidados na elaboração do questionário. Adequou-se o
número de perguntas ao razoável (nem demais, nem de menos: parte I – 4 perguntas,
parte II – 13 perguntas); elaboraram-se perguntas fechadas (na sua maioria,
dicotómicas), compreensíveis, não ambíguas; abrangeram-se somente pontos de
interesse para o projeto e de relevância relativamente à experiência do
inquirido. (CARMO & FERREIRA, 1998)
Uma vez que o tempo disponível para elaboração e aplicação do
mesmo era diminuto, elegeu-se um questionário do tipo fechado. Composto por
questões objetivas, delimitadas no tempo e com resultados possíveis de tratar
quantitativamente e analisar estatisticamente.
Na primeira versão do questionário, utilizou-se a escala de
Likert. A escala de Likert consiste numa escala psicométrica, em que a pessoa
pode responder à questão através de uma escala gradual de pontos ou de
intervalos de acordo com a posição que tem em relação à situação. Tomemos o
exemplo de uma das perguntas elaboradas na primeira versão do questionário:
«Considera importante a existência de uma Norma de Procedimento sobre o
Transporte Inter-hospitalar do Doente Crítico, na sua instituição hospitalar?»
Seguidamente, seriam apresentadas as respostas possíveis, de acordo com uma
escala ordinal de 5 pontos, em que aos pontos correspondem os graus de atribuição
de importância (1- nada importante, 2 – pouco importante, 3 - importante, 4 – bastante
importante, 5 – muito importante). Tendo em conta que as instruções para
responder ao questionário foram apresentadas na introdução do mesmo, não houve
dúvidas nas respostas. Todavia, após aplicação de pré-teste para garantir a sua
aplicabilidade no terreno e avaliar se estava de acordo com os objetivos
inicialmente formulados, verificou-se que a utilização desta escala era
escusada do ponto de vista da averiguação da viabilidade/ necessidade do PIS e
da reação que provocou aos inquiridos, por provocar aborrecimento. Percebeu-se,
assim, que para validar a pertinência/ importância do PIS e envolver a equipa
de enfermagem no projeto, o mais importante era, sem dúvida, deslindar se os
inquiridos consideram importante ou não, nas questões de importância do PIS, e
sim ou não, nas questões de validação de formação na área de atuação do
projeto.
Posto isto, desenvolveu-se a segunda versão do questionário, desta
vez com questões dicotómicas. Para dar conhecer as necessidades de formação da
equipa de enfermagem, para além de questionarmos se os inquiridos têm formação
na área, perguntámos há quanto tempo concluíram essa formação.
O questionário (final) ficou assim composto por duas partes. A
primeira parte contém questões que visam aferir dados socioprofissionais da
amostra inquirida. A segunda parte detém questões que pretendem conhecer se os
inquiridos consideram o(s) tema(s) pertinentes e validar as necessidades de
formação
Após apresentação do questionário ao Conselho de
Administração desta Unidade Hospitalar e de o mesmo ter sido aprovado, com o
compromisso dos investigadores de que as questões éticas e deontológicas seriam
tidas em consideração ao longo de todo o processo, o questionário foi aplicado.
Obtivemos 100 % de respostas nos questionários. O objetivo
para o qual o questionário foi elaborado foi concluído, pois conseguiu-se
validar a pertinência do projeto, conhecer as necessidades de formação e
envolver a equipa de enfermagem no projeto.
Seguidamente, apresentamos o questionário que foi colocado à
equipa de enfermagem da UCINT da Unidade Hospitalar, onde nos encontramos a
desenvolver o Projeto de Intervenção em Serviço.
Referências Bibliográficas e eletrónicas:
CARIA, Maria
Helena – Métodos de pesquisa de
informação: área disciplinar de investigação e estatística. 2ª edição.
Escola Superior de Saúde de Setúbal: [s.n.], Novembro de 2005. ISBN:
972-8431-24-4.
CARMO, H.;
FERREIRA, M. M. – Metodologia da
investigação: guia para a auto-aprendizagem – Lisboa: Universidade Aberta,
1998.
CARVALHO,
Adalberto Dias, et al – A construção de
um Projeto Escola. Porto: Porto Editora, 1993. ISBN
972-0-34203-X.
DADDS, Marion, HART, Susan, et al - Doing
practitioner research differently. London: Edition Falmer, 2001.
DENZIN, Norman K. & LINCOLN, Yvonna S., et al
- Handbook
of qualitative research. 2nd edition. Thousand Oaks, Ca.: Sage, 2000.
GUERRA,
Isabel – Introdução à Metodologia de Projecto.
Lisboa. 1994.
LEITE,
Elvira; MALPIQUE, Manuela; SANTOS, Milice; MAGALHÃES, A.; NOGUEIRA, Luísa – Trabalho de Projeto, Aprender por projetos
centrados em problemas – vol. 1; Porto: Afrontamento, 2001.
LESSARD-HÉBERT,
Michelle; GOYETTE, Gabriel; BOUTIN, Gérald - Investigação Qualitativa - Fundamentos e práticas. Lisboa:
Instituto Piaget, 1994. ISBN: 972-9295-75-1.
NUNES, L.;
Alunos 7º CLE; RUIVO, A.; FERRITO, C – Metodologia
de Projeto: coletânea descritiva – II. Diagnóstico de Situação – Revista Percursos N.º15; Setúbal, 2010,
p.10-17.
RIBEIRO, José
Luís Pais - Investigação e avaliação em
psicologia e saúde. Lisboa:
Climepsi Editores, 1999. ISBN 972-8449-44-5
ROBSON, Colin - Real World Research. Blackwell Publishers. 2002.
STREUBERT,
Helen; CARPENTER, Dona - Investigação
Qualitativa em Enfermagem. Lisboa: Lusociência, 2002. ISBN 972-8383-29-0.
1 – Avaliable from world wide web: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=projeto
Sem comentários:
Enviar um comentário