I.1 Métodos de Tratamento de Informação
Explanação sobre os vários métodos de
tratamento de informação
O módulo Métodos de
tratamento de informação foi lecionado pela Professora Doutora Helena
Caria. Nunca a investigação nos pareceu tão simples e fácil de realizar. Citamos
uma frase da Docente, que nos ficou no pensamento, uma definição tão ágil quanto
sucinta da investigação: “Ter uma ideia,
fazê-la e partilhá-la”. Elementar!
Segundo Caria, os ingredientes chave para um bom projeto de
investigação são: interesse e paciência. Após findar o segundo
semestre do 2º Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, nós acrescentámos mais
um “tempero-chave”: a dedicação.
Segundo aportes das aulas lecionadas pela Prof.ª Phd Caria, a
investigação apenas termina quando os resultados são comunicados. Pois, se
investigar é aprender, então o investigador tem obrigação profissional e moral
de apresentar os resultados da sua investigação, ao invés de guardá-los na
gaveta. A investigação permite: conhecer melhor, explicar fenómenos, prever
resultados, melhorar eficácia das intervenções, controlar efeitos de projetos,
dar respostas mais adequadas aos problemas, contribuir com corpo de
conhecimentos na área à qual se dedica (ex.: enfermagem), produzir conhecimento
científico.
Ainda de acordo com aportes das aulas do Módulo de Métodos de
Tratamento de Informação, o processo de investigação compreende três etapas que
se coadunam com as ações desenvolvidas pelo investigador:
ETAPAS
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AÇÕES
DO INVESTIGADOR
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Planificar o trabalho
|
à
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Elaborar o Projeto
|
Realizar estudo
|
à
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Obter e analisar dados
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Comunicar conclusões
|
à
|
Redigir informação
|
Os métodos de tratamento de informação (ou análise de
conteúdo) são, de fato, uma pedra no sapato de um estudante. Quando se fala em
investigação, todos afirmam «não me importo de ficar na pesquisa» ou «eu faço o
desenho do estudo». Mas ninguém assume vontade real de analisar conteúdo. É por
isso, que nesta reflexão, propomo-nos a explanar sobre as vicissitudes de uma
análise de conteúdo. O que é, como se faz, características inerentes e a que
critérios deve dar resposta são os vários pontos de partida para esta análise
da «análise de conteúdo».
A análise de conteúdo deve permitir fazer uma descrição objetiva
e sistemática (se possível quantitativa) do conteúdo manifesto das
comunicações, tendo por objetivo a sua interpretação o mais próximo possível da
realidade.
A objetividade confere à
análise de conteúdo uma compreensão similar por diferentes investigadores. Isto
é, se analisarem de acordo com determinadas regras e obedecerem a instruções
claras e precisas, o resultado da análise vai ser o mesmo.
O conteúdo analisado deve ser sistematizado
e integrado em categorias, que o investigador organiza previamente e de acordo
com os objetivos que auspicia.
Quantificar o conteúdo quando o
analisamos, permite a generalização de resultados de uma determinada população
em estudo a partir da amostra, bem como o estabelecimento de relações
causa-efeito e a previsão de fenómenos. Os objetivos da análise de conteúdo quantitativa
são encontrar relações entre variáveis, fazer descrições recorrendo ao
tratamento estatístico de dados recolhidos e testar teorias. Daí a referência à
seleção de uma amostra que deverá ser representativa da população em estudo,
para que os resultados possam ser generalizados a essa mesma população.
Bardin (1977), apoiado mais tarde por Grawitz (1993), coloca
de parte a exigência manifesta no que concerne à descrição quantitativa,
enaltendo, por sua vez, as noções de forma e de estrutura.
O mesmo autor (BARDIN, 1977), defende que “a análise de conteúdo não deve de ser utilizada
apenas para se proceder a uma descrição de conteúdo das mensagens, pois a sua
principal finalidade é a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção (ou eventualmente de receção), com a ajuda de indicadores
(quantitativos ou não).”
A análise de conteúdo é, assim, composta por três etapas:
1ª – descrição, que corresponde à enumeração resumida
após tratamento das características do texto;
2ª – inferência, etapa intermédia que permite a
passagem explicita e controlada da descrição à interpretação;
3ª – interpretação, consiste no significado atribuído às
características.
Assim, a inferência pode ser feita sobre a origem da mensagem
ou sobre o próprio destinatário da comunicação. Ainda segundo Bardin (1977), a
especificidade da análise de conteúdo resulta da articulação entre o texto (que
é descrito e analisado, pelo menos em relação a certos dos seus elementos
característicos) e os fatores que determinam as características (deduzidas
logicamente).
Grawitz (1993) definiu vários tipos de análise de conteúdo,
que também são distintos entre si: análise de exploração e análise de
verificação; análise quantitativa e análise qualitativa; análise direta e análise
indireta.
Na análise de verificação, analisamos documentos com o
objetivo de verificar uma hipótese. Sendo uma análise fortemente sistematizada,
não contempla todas as hipóteses, o que pode fazer com que fiquem fora do campo
de investigação elementos que até poderiam ser essenciais para o estudo. Na análise
exploratória, o leque de opções é vasto que os resultados não são específicos e,
por isso, não são tao apreciáveis.
Na análise quantitativa, os dados numéricos têm lugar de
destaque. Enquanto que, na análise qualitativa, a noção de importância implica
a novidade, o interesse, o valor de um tema.
A análise direta vai beber consistência à análise
quantitativa. É um modo simples de proceder. A análise indireta, por sua vez,
procura uma interpretação do que se encontra latente sob a linguagem expressa,
relacionando-se muito com a análise qualitativa. Porém, também podemos efetuar
uma análise quantitativa indireta de um discurso e, por inferência, chegar a
conclusões sobre o que não foi dito ou escrito propositadamente. Acontece tantas
vezes na política!...
Bardin (1977) considera três fases na análise de conteúdo: 1 –
pré-análise; 2 – exploração do material; 3 – tratamento dos resultados,
inferência e interpretação. Contudo, o mesmo autor considera que a análise de conteúdo
compreende algumas etapas:
- Definição de objetivos e de um quadro de referência
teórico; a criação de objetivos consiste no ponto de partida de uma
pesquisa/ investigação, que deve ser sempre alicerçada a um corpo teórico
sólido.
- Constituição de um corpus,
consiste no conjunto de documentos que o investigador seleciona com base na
definição dos objetivos a que pretende dar resposta. A escolha destes documentos
deve respeitar algumas regras: exaustividade (ou seja, todos os elementos do conjunto
devem ser considerados), representatividade (parte selecionada de cada
documento, deve corresponder ao conjunto dos documentos), homogeneidade
(documentos respondem diretamente a critérios de escolha), pertinência (em
relação ao tema em estudo).
- Definição de categorias. Pode ser feita inicial ou posteriormente.
Permite organizar o conteúdo analisado. As categorias devem ter as seguintes particularidades:
exaustivas, exclusivas, objetivas e pertinentes. A definição de categorias é um
passo importante que deve ser realizado com bastante rigor, quer seja feito no
inicio ou no decorrer do estudo, pois poderá comprometer a fiabilidade dos
resultados do estudo.
- Definição de unidades de análise. Depois de definir
categorias, temos de estipular as unidades de análise. Existem três tipos de
unidades: de registo (que podem ser formais ou semânticas), de contexto e de
enumeração.
- Quantificação (não obrigatória). Compreende um leque
vasto de técnicas que evoluíram de acordo com a evolução do campo de análise
das ciências sociais e meios de tratamento de dados informáticos.
- Interpretação dos resultados obtidos. A inferência precede
a interpretação de resultados, que deve ser feita no sentido de dar resposta
aos objetivos do estudo e assente em pressupostos teóricos validados. A finalidade
é a compreensão de um fenómeno (ou mais) e, se possível, definição de formas de
previsão do mesmo. Sem esquecer que qualquer previsão deve ser sempre validada
através do cruzamento dos resultados obtidos com outras técnicas.
Por fim, a análise de conteúdo carece de dois alicerces
fundamentais: a fidelidade e a validade.
Para garantir a fidelidade, o investigador deve explanar
pormenorizadamente os critérios de codificação que utiliza e aplicá-los com
rigor. É importante certificar que o investigador aplique ao logo do seu
trabalho os mesmos critérios de codificação. O intuito é que, se tivermos
investigadores diferentes a aplicar os mesmos critérios de codificação, os
resultados a que cada um chega, devem ser análogos.
Uma análise de conteúdo será válida quando a descrição
fornecida para o conteúdo tem significância para o problema em causa e reproduz
fielmente a realidade dos fatos. Para defender a validade de uma análise de
conteúdo, é necessário que todas as etapas que integram o processo de análise
sejam corretamente executadas.
Referências Bibliográficas e eletrónicas:
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Portugal: Edições 70, 1977.
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Helena – Métodos de pesquisa de
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