sábado, 6 de abril de 2013

 

I.1 Métodos de Tratamento de Informação


Explanação sobre os vários métodos de tratamento de informação

        

O módulo Métodos de tratamento de informação foi lecionado pela Professora Doutora Helena Caria. Nunca a investigação nos pareceu tão simples e fácil de realizar. Citamos uma frase da Docente, que nos ficou no pensamento, uma definição tão ágil quanto sucinta da investigação: “Ter uma ideia, fazê-la e partilhá-la”. Elementar!

Segundo Caria, os ingredientes chave para um bom projeto de investigação são: interesse e paciência. Após findar o segundo semestre do 2º Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, nós acrescentámos mais um “tempero-chave”: a dedicação.

Segundo aportes das aulas lecionadas pela Prof.ª Phd Caria, a investigação apenas termina quando os resultados são comunicados. Pois, se investigar é aprender, então o investigador tem obrigação profissional e moral de apresentar os resultados da sua investigação, ao invés de guardá-los na gaveta. A investigação permite: conhecer melhor, explicar fenómenos, prever resultados, melhorar eficácia das intervenções, controlar efeitos de projetos, dar respostas mais adequadas aos problemas, contribuir com corpo de conhecimentos na área à qual se dedica (ex.: enfermagem), produzir conhecimento científico.

Ainda de acordo com aportes das aulas do Módulo de Métodos de Tratamento de Informação, o processo de investigação compreende três etapas que se coadunam com as ações desenvolvidas pelo investigador:

 


ETAPAS

 

AÇÕES DO INVESTIGADOR

Planificar o trabalho

à

Elaborar o Projeto

Realizar estudo

à

Obter e analisar dados

Comunicar conclusões

à

Redigir informação

Os métodos de tratamento de informação (ou análise de conteúdo) são, de fato, uma pedra no sapato de um estudante. Quando se fala em investigação, todos afirmam «não me importo de ficar na pesquisa» ou «eu faço o desenho do estudo». Mas ninguém assume vontade real de analisar conteúdo. É por isso, que nesta reflexão, propomo-nos a explanar sobre as vicissitudes de uma análise de conteúdo. O que é, como se faz, características inerentes e a que critérios deve dar resposta são os vários pontos de partida para esta análise da «análise de conteúdo».

 

A análise de conteúdo deve permitir fazer uma descrição objetiva e sistemática (se possível quantitativa) do conteúdo manifesto das comunicações, tendo por objetivo a sua interpretação o mais próximo possível da realidade.

            A objetividade confere à análise de conteúdo uma compreensão similar por diferentes investigadores. Isto é, se analisarem de acordo com determinadas regras e obedecerem a instruções claras e precisas, o resultado da análise vai ser o mesmo. 

            O conteúdo analisado deve ser sistematizado e integrado em categorias, que o investigador organiza previamente e de acordo com os objetivos que auspicia.

            Quantificar o conteúdo quando o analisamos, permite a generalização de resultados de uma determinada população em estudo a partir da amostra, bem como o estabelecimento de relações causa-efeito e a previsão de fenómenos. Os objetivos da análise de conteúdo quantitativa são encontrar relações entre variáveis, fazer descrições recorrendo ao tratamento estatístico de dados recolhidos e testar teorias. Daí a referência à seleção de uma amostra que deverá ser representativa da população em estudo, para que os resultados possam ser generalizados a essa mesma população.

Bardin (1977), apoiado mais tarde por Grawitz (1993), coloca de parte a exigência manifesta no que concerne à descrição quantitativa, enaltendo, por sua vez, as noções de forma e de estrutura.

O mesmo autor (BARDIN, 1977), defende que “a análise de conteúdo não deve de ser utilizada apenas para se proceder a uma descrição de conteúdo das mensagens, pois a sua principal finalidade é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente de receção), com a ajuda de indicadores (quantitativos ou não).”

A análise de conteúdo é, assim, composta por três etapas:

1ª – descrição, que corresponde à enumeração resumida após tratamento das características do texto;

2ª – inferência, etapa intermédia que permite a passagem explicita e controlada da descrição à interpretação;

3ª – interpretação, consiste no significado atribuído às características.

Assim, a inferência pode ser feita sobre a origem da mensagem ou sobre o próprio destinatário da comunicação. Ainda segundo Bardin (1977), a especificidade da análise de conteúdo resulta da articulação entre o texto (que é descrito e analisado, pelo menos em relação a certos dos seus elementos característicos) e os fatores que determinam as características (deduzidas logicamente).

Grawitz (1993) definiu vários tipos de análise de conteúdo, que também são distintos entre si: análise de exploração e análise de verificação; análise quantitativa e análise qualitativa; análise direta e análise indireta.

Na análise de verificação, analisamos documentos com o objetivo de verificar uma hipótese. Sendo uma análise fortemente sistematizada, não contempla todas as hipóteses, o que pode fazer com que fiquem fora do campo de investigação elementos que até poderiam ser essenciais para o estudo. Na análise exploratória, o leque de opções é vasto que os resultados não são específicos e, por isso, não são tao apreciáveis.

Na análise quantitativa, os dados numéricos têm lugar de destaque. Enquanto que, na análise qualitativa, a noção de importância implica a novidade, o interesse, o valor de um tema.

A análise direta vai beber consistência à análise quantitativa. É um modo simples de proceder. A análise indireta, por sua vez, procura uma interpretação do que se encontra latente sob a linguagem expressa, relacionando-se muito com a análise qualitativa. Porém, também podemos efetuar uma análise quantitativa indireta de um discurso e, por inferência, chegar a conclusões sobre o que não foi dito ou escrito propositadamente. Acontece tantas vezes na política!...

Bardin (1977) considera três fases na análise de conteúdo: 1 – pré-análise; 2 – exploração do material; 3 – tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Contudo, o mesmo autor considera que a análise de conteúdo compreende algumas etapas:

- Definição de objetivos e de um quadro de referência teórico; a criação de objetivos consiste no ponto de partida de uma pesquisa/ investigação, que deve ser sempre alicerçada a um corpo teórico sólido.  

- Constituição de um corpus, consiste no conjunto de documentos que o investigador seleciona com base na definição dos objetivos a que pretende dar resposta. A escolha destes documentos deve respeitar algumas regras: exaustividade (ou seja, todos os elementos do conjunto devem ser considerados), representatividade (parte selecionada de cada documento, deve corresponder ao conjunto dos documentos), homogeneidade (documentos respondem diretamente a critérios de escolha), pertinência (em relação ao tema em estudo).

- Definição de categorias. Pode ser feita inicial ou posteriormente. Permite organizar o conteúdo analisado. As categorias devem ter as seguintes particularidades: exaustivas, exclusivas, objetivas e pertinentes. A definição de categorias é um passo importante que deve ser realizado com bastante rigor, quer seja feito no inicio ou no decorrer do estudo, pois poderá comprometer a fiabilidade dos resultados do estudo.

- Definição de unidades de análise. Depois de definir categorias, temos de estipular as unidades de análise. Existem três tipos de unidades: de registo (que podem ser formais ou semânticas), de contexto e de enumeração.  

- Quantificação (não obrigatória). Compreende um leque vasto de técnicas que evoluíram de acordo com a evolução do campo de análise das ciências sociais e meios de tratamento de dados informáticos.

- Interpretação dos resultados obtidos. A inferência precede a interpretação de resultados, que deve ser feita no sentido de dar resposta aos objetivos do estudo e assente em pressupostos teóricos validados. A finalidade é a compreensão de um fenómeno (ou mais) e, se possível, definição de formas de previsão do mesmo. Sem esquecer que qualquer previsão deve ser sempre validada através do cruzamento dos resultados obtidos com outras técnicas.     

Por fim, a análise de conteúdo carece de dois alicerces fundamentais: a fidelidade e a validade.

Para garantir a fidelidade, o investigador deve explanar pormenorizadamente os critérios de codificação que utiliza e aplicá-los com rigor. É importante certificar que o investigador aplique ao logo do seu trabalho os mesmos critérios de codificação. O intuito é que, se tivermos investigadores diferentes a aplicar os mesmos critérios de codificação, os resultados a que cada um chega, devem ser análogos.

Uma análise de conteúdo será válida quando a descrição fornecida para o conteúdo tem significância para o problema em causa e reproduz fielmente a realidade dos fatos. Para defender a validade de uma análise de conteúdo, é necessário que todas as etapas que integram o processo de análise sejam corretamente executadas.

 

Referências Bibliográficas e eletrónicas:

BARDIN, L. - Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977.

CARIA, Maria Helena – Métodos de pesquisa de informação: área disciplinar de investigação e estatística. 2ª edição. Escola Superior de Saúde de Setúbal: [s.n.], Novembro de 2005. ISBN: 972-8431-24-4.

CARMO, H.; FERREIRA, M. M. – Metodologia da investigação: guia para a auto-aprendizagem – Lisboa: Universidade Aberta, 1998.

CARVALHO, Adalberto Dias, et al – A construção de um Projeto Escola. Porto: Porto Editora, 1993. ISBN 972-0-34203-X.

DADDS, Marion, HART, Susan, et al - Doing practitioner research differently. London: Edition Falmer, 2001.

DENZIN, Norman K. & LINCOLN, Yvonna S., et al  - Handbook of qualitative research. 2nd edition.  Thousand Oaks, Ca.: Sage, 2000.

GUERRA, Isabel – Introdução à Metodologia de Projecto. Lisboa. 1994.

GRAWITZ, Madeleine – Méthodes des Sciences Sociales – 9ª edição. Paris: Éditions Dalloz. 1993, p. 532-565.

LEITE, Elvira; MALPIQUE, Manuela; SANTOS, Milice; MAGALHÃES, A.; NOGUEIRA, Luísa – Trabalho de Projeto, Aprender por projetos centrados em problemas – vol. 1; Porto: Afrontamento, 2001.

LESSARD-HÉBERT, Michelle; GOYETTE, Gabriel; BOUTIN, Gérald - Investigação Qualitativa - Fundamentos e práticas. Lisboa: Instituto Piaget, 1994. ISBN: 972-9295-75-1.

NUNES, L.; Alunos 7º CLE; RUIVO, A.; FERRITO, C – Metodologia de Projeto: coletânea descritiva – II. Diagnóstico de SituaçãoRevista Percursos N.º15; Setúbal, 2010, p.10-17.

RIBEIRO, José Luís Pais - Investigação e avaliação em psicologia e saúde. Lisboa: Climepsi Editores, 1999. ISBN 972-8449-44-5

ROBSON, Colin - Real World Research.  Blackwell Publishers. 2002.

STREUBERT, Helen; CARPENTER, Dona - Investigação Qualitativa em Enfermagem. Lisboa: Lusociência, 2002. ISBN 972-8383-29-0.

 

 

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